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A primeira vez ninguém esquece, e com Pierre Gasly não seria diferente.

  • Foto do escritor: Monique Mavillyn
    Monique Mavillyn
  • há 2 dias
  • 3 min de leitura

Em Monza, 6 de setembro de 2020, a lógica foi obrigada a dar passagem.

Naquele domingo, não foram as Mercedes ou as Red Bulls que ditaram o ritmo da corrida. Foi Pierre Gasly, um francês que até pouco tempo atrás era visto apenas como coadjuvante, marcado por quedas e reviravoltas, quem escreveu seu nome no lugar mais alto do pódio e venceu pela primeira vez na Fórmula 1.


E não foi em qualquer palco: foi no “templo da velocidade”, a casa da Ferrari, diante de uma torcida que, ironicamente, vibrava por outro time, mas que terminou aplaudindo de pé a improvável vitória.


Pierre Gasly vence o GP da Itália, em Monza 2020. Foto: Pierre Gasly via X
Pierre Gasly vence o GP da Itália, em Monza 2020. Foto: Pierre Gasly via X

Gasly não chegou ao pódio pela via da superioridade técnica. Não estava dentro de um dos carros da Red Bull, Mercedes, McLaren ou Ferrari. Era a modesta AlphaTauri, uma equipe satélite, que até então raramente sonhava em brigar por vitórias.


O triunfo nasceu de uma mistura de circunstâncias — Hamilton liderava, Bottas vinha atrás, e Monza parecia destinada a repetir o roteiro que a Fórmula 1 vinha encenando há anos. Mas a bandeira vermelha, causada pelo acidente de Leclerc e pela confusão do pit stop fechado que custou uma punição a Hamilton, virou o tabuleiro de ponta-cabeça.


Acreditar que foi só “sorte” seria uma leitura preguiçosa a se fazer. Ali havia mais do que acaso ou destino se preferir. Havia talento, resiliência e uma mente treinada para suportar a pressão que devora muitos pilotos, especialmente quando falta tão pouco para cruzar a linha de chegada e vencer. É aquela pressão que te acompanha a cada segundo para não cometer nenhum mero deslize que custe tudo o que foi conquistado até então.


Para entender a dimensão daquele momento, é preciso voltar um pouco na linha do tempo. Pierre Gasly foi promovido às pressas para a Red Bull em 2019 e, menos de uma temporada depois, foi rebaixado. Publicamente, parecia um fracasso.


Você sabe que nesse caso a Fórmula 1 costuma ser cruel: ou o piloto prova seu valor imediatamente, ou é descartado. Simples assim.


Inevitavelmente, quedas bruscas como essa podem desestabilizar um grande piloto. Afinal, estar em uma equipe de ponta vale muito para vencer corridas. E Gasly, em vez de sucumbir, seguiu trabalhando, lapidando, equilibrando o carro e, sobretudo, reconstruindo a confiança.


Pierre Gasly na Red Bull, 2019. Foto: Sky Sports
Pierre Gasly na Red Bull, 2019. Foto: Sky Sports

Passado um ano depois, lá estava ele, em um fim de semana sólido, diante de uma rara chance naquele Grande Prêmio da Itália de 2020.


De repente, a AlphaTauri estava em posição de brigar por algo que parecia improvável: a vitória. E aí entra a parte que não se escreve com sorte, mas com sangue frio. O francês precisou administrar cada volta como se fosse a última e resistiu à pressão de Carlos Sainz nas últimas voltas — e, em Monza, resistir à McLaren que vinha crescendo não foi tarefa pequena.


A sua primeira vitória na F1 em solo italiano, então, representou sua sobrevivência psicológica. Imagine estar à frente de todos, com pilotos se aproximando curva a curva, enquanto o rádio da equipe grita instruções. O coração dispara a 180 batimentos por minuto, o corpo todo tensionado pela carga de forças G, a mente lutando contra pensamentos intrusivos. Naquele instante, é uma mistura de máquina e vulnerabilidade pairando sob o piloto.


Quando cruzou a linha de chegada, o grito no rádio não era apenas a comemoração de uma vitória inesperada. Era o extravasar de anos de dúvida, crítica e reconstrução. Gasly se tornou o primeiro francês a vencer desde Olivier Panis em 1996, carregando consigo um peso simbólico para seu país, mas também um triunfo íntimo: a prova de que ele não era um descartável.


Conseguiu vencer o estigma de ter sido dispensado da Red Bull, romper com os olhares de desconfiança, e provou que merecia ter seu lugar no grid da Fórmula 1.


Naquele dia, a Itália, repleta pela energia dos tifosis e todos que acompanhavam pelas telas de suas casas ao redor do mundo vibrou pela lembrança de que, mesmo em um esporte tão dominado por gigantes, ainda há espaço para histórias inesperadas. Gasly devolveu à F1 uma de suas maiores virtudes — a capacidade de surpreender.



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