Altos e baixos na pista queridinha dos pilotos: um review do GP da Bélgica
- Monique Mavillyn
- 30 de jul.
- 5 min de leitura
Existe um momento na vida de todo competidor de alto nível onde tudo se resume a uma escolha simples: você aceita e ressignifica a derrota ou se desmorona emocionalmente. No Grande Prêmio da Bélgica de 2025, vimos esta dinâmica se manifestar não só em um piloto, mas em vários deles.
Por mais de uma hora, a pista de Spa-Francorchamps ficou vazia. Os carros não correram, o público não vibrou, mas dentro dos boxes, a competição já estava em curso. Era mental. Ali, na pausa provocada pela chuva belga que durou quase noventa minutos, os pilotos viviam o que poucos torcedores percebem: a fragilidade do tempo quando o corpo quer correr, mas a mente precisa esperar. E enquanto os carros dormiam no pitlane, os pilotos continuavam a manter o foco, conter a ansiedade e recalibrar o ímpeto.

Lando Norris, pole position, carregava aquela expectativa de vencer diante da própria família, que estava em peso naquela corrida. E apesar de ter feito os esforços no final de semana, o ritmo de corrida comparado a seu parceiro Oscar Piastri não era o mesmo, e junto à perda de posição para o australiano, Lando cometeu alguns erros que o fizeram abrir um gap de 3 segundos em relação ao líder.
O segundo lugar, naquele contexto, não foi derrota — foi ausência de entrega para quem ele queria orgulhar. Um pódio que, em outro cenário, seria consagração, tornou-se um descontentamento íntimo. É normal a nossa mente criar os parâmetros do que basta e, naquele domingo, para Norris, o “suficiente” exigia mais.
Oscar Piastri, por outro lado, viveu o oposto. Líder do campeonato, largando em segundo, ultrapassou Norris logo na primeira volta. Essa era a melhor chance que ele poderia ter na corrida. A vitória foi sólida, sem erros e um controle emocional que tem sido admirável no jovem desde que estreou na Fórmula 1.
“Administramos o resto da corrida muito bem. Tive um pouco de dificuldade no final da pista média, mas senti que tínhamos tudo sob controle. Obrigado à equipe por nos dar um ótimo carro neste fim de semana. Estou animado para a Hungria.” Contou ele a F1 na coletiva de imprensa pós GP.
Com essa vitória, Piastri ampliou sua liderança no campeonato para 16 pontos. Numericamente, parece pouco. Psicologicamente, representa uma vantagem massiva. Quando você está à frente, você força seus competidores a assumir riscos maiores, e se mal calculados, podem colocar em jogo à sua própria posição na corrida e no campeonato.
E mesmo que esse pódio tenha tido uma mistura de sentimentos positivos e não tanto assim, essa foi a primeira dobradinha da McLaren em Spa desde 1999, que consolidou a equipe como a força dominante na atual temporada.
Altos e baixos parte dois
Na Ferrari, Charles Leclerc manteve-se competitivo com um terceiro lugar, sustentando a pressão constante de Max Verstappen, que terminou em quarto após não conseguir converter sua configuração de alta pressão aerodinâmica em vantagem no trecho seco. Comparando os tempos no fim da corrida, a diferença média entre os dois pilotos foi de apenas um milésimo de segundo. Charles chegou até a dizer nas coletivas que sempre que terminava uma volta muito boa, olhava para trás e já via Verstappen colado - e vamos combinar, segurar o tetracampeão não é a mais fácil das tarefas né? -.

Mais notável foi a atuação de Lewis Hamilton. Largando do pit lane após ajustes no carro, ele escalou o pelotão com agressividade nos estágios iniciais e foi o primeiro a trocar para pneus slicks, conquistando a sétima posição e o reconhecimento de Piloto do Dia. Em um momento de adaptação em uma nova escuderia, a performance de Lewis mostra o quão importante é ter a mente treinada para usar sua experiência e fazer uma leitura de corrida mais assertiva em contextos inesperados.
A Mercedes, com George Russell em P5 e Kimi Antonelli fora da zona de pontuação, confirmou um fim de semana de limitações técnicas. A estratégia mais conservadora e um acerto voltado para pista molhada não surtiram o efeito desejado por todos da equipe de Brackley.
“Não há muitos pontos positivos que possamos tirar do fim de semana aqui em Spa. Nosso ritmo não tem sido bom o suficiente para competir com nossos rivais e isso tem sido frustrante. Precisamos entender rapidamente o porquê. Também precisamos garantir que executaremos o fim de semana de corrida de forma mais limpa, colocando o carro em uma posição melhor desde a primeira sessão na pista.
Hoje, George entregou o máximo com o carro na quinta posição. Foi uma corrida focada em limitar danos e ele fez um bom trabalho para garantir alguns pontos. Para Kimi, largando atrás, sempre seria desafiador lutar. Nas condições mais molhadas, seu acerto foi útil, mas isso o atrapalhou na transição para o seco. Ele tentou algo diferente com as duas paradas nos momentos finais, mas sua desvantagem na reta o impediu.” Disse Toto Wolff a F1.
Williams, por outro lado, capitalizou com Albon mantendo Hamilton atrás na reta final e garantindo o sexto lugar.
“Estou muito feliz; estamos no topo do pelotão intermediário, então isso é sempre bom, e consegui segurar o Lewis, o que nunca é fácil. Tive um pouco de dificuldade na chuva, o que era de se esperar, então perdi essa posição para o George no início, mas depois disso, nos adaptamos e conseguimos manter a posição e terminar em alta. Era importante não cometer erros com o Lewis atrás, mas acho que a pressão aerodinâmica dele funcionou a nosso favor.” Comentou ele a F1.
Alpine, Aston Martin, Haas, Racing Bulls e Sauber também mostraram sinais de consistência, embora cada qual com limitações claras de ritmo.
Nico Hulkenberg se mostrou frustrado depois de escapar da zona de pontuação por apenas um segundo. Largando de 14º, o piloto alemão chegou a ficar entre os dez primeiros, mas a perda de ritmo depois da segunda metade da corrida e a degradação dos seus pneus dianteiros o obrigou a parar a apenas 11 voltas do final. Não restou tempo o suficiente para ele batalhar pela antiga posição já que, no fim, acabou cruzando a bandeira quadriculada em apenas 12º.
Mesmo assim, a Sauber conseguiu sair da Bélgica com alguns pontos positivos. Gabriel Bortoleto trouxe para Spa tudo o que podia, soube extrair o máximo do carro em condições instáveis, lidando bem com a transição do molhado para o seco e aproveitando a estratégia de parada única da equipe. Seu ritmo constante e a capacidade de manter a posição sob pressão direta de Lawson o fizeram cruzar à linha de chegada em P9.
“No geral, estou feliz com o resultado da corrida: sinto que extraímos tudo o que podíamos do nosso conjunto. Nosso ritmo foi sólido durante todo o fim de semana, e isso é um crédito para toda a equipe por me dar um carro que me agradou em todas as sessões. É claro que, como piloto, você sempre quer brigar por posições mais altas no grid, mas este foi um resultado sólido e mais um passo considerável. Marcamos mais dois pontos, e isso me dá uma confiança extra para a próxima etapa em Budapeste, em poucos dias.”
A corrida em Spa foi um teste de regulação emocional. Não é trivial segurar a pressão de um segundo lugar que parece derrota, como foi o caso de Norris, nem manter a frieza sob pneus desgastados enquanto se lidera um pelotão, como fez Piastri, e usar a maestria para escalar quase um pelotão inteiro e conseguir a melhor posição possível, como fez Lewis Hamilton. A mente daqueles que vivem com a alta performance está na capacidade de se adaptar, ler cenários em tempo real e gerenciar a própria reatividade. E sabendo como a Fórmula 1 é imprevisível, manter a cabeça no lugar faz diferença.
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