De volta para onde tudo começou: Silverstone recebe a 12ª etapa da Fórmula 1
- Giovanna Carvalho
- 3 de jul.
- 8 min de leitura
O que permanece de um esporte depois de 75 anos? Talvez não seja o carro. Nem a velocidade. Mas o lugar para onde se volta.
Estamos naquela era que tudo no planeta Terra muda mais rápido do que um assento na Alpine, só que Silverstone mantém com a mesma essência e... nostalgia.
É nesse traçado plano, exposto ao vento e à chuva comum no território inglês, que a Fórmula 1 realizou sua primeira corrida oficial em 1950. Não havia DRS, nem compostos alternativos, nem simuladores. Havia carros, homens, e uma linha de largada improvisada entre fardas e mecânicos de mãos sujas.
Décadas depois, a pista continua ali. Mudou, é claro. Passou por reformas, ganhou zebras mais modernas e áreas de escape com câmeras. Mas a curva Copse ainda exige coragem. A sequência Maggots-Becketts-Chapel ainda é uma dança de precisão em alta velocidade. E o traçado ainda pede aquilo que nenhuma telemetria entrega: instinto.
Depois de mais uma vitória papaya na Áustria — com Lando Norris vencendo, Oscar Piastri garantindo a dobradinha para a equipe e a diferença entre os dois no campeonato diminuindo para 15 pontos —, com direito a três DNF (Albon, Antonelli e Verstappen), um DNS (Sainz) e aos primeiros pontos do brasileiro Gabriel Bortoleto na Fórmula 1, a categoria desembarca na terra da rainha - agora do rei - para um dos grande prêmios mais tradicionais da história.

ZOOM IN no circuito e no que já vivemos
Localizado na cidade de Silverstone, em Northamptonshire, na Inglaterra, antes de ser um circuito, o terreno de Silverstone era um aeroporto, utilizado como base militar durante a Segunda Guerra Mundial, e, até 1947, abrigou um esquadrão de bombardeiros. Mas, no ano seguinte, o Automóvel Clube Britânico conseguiu direito sobre o local. O seu traçado foi adaptado com curvas simples, mas rápidas, em um percurso que beirava os cinco quilômetros de extensão, para receber competições do automobilismo inglês.
Foi em 13 de maio de 1950 que o circuito recebeu a primeira corrida do que hoje nós conhecemos como Fórmula 1. Na ocasião, a Alfa Romeo e a Talbot-Lago entregaram um grande duelo na pista, com vitória de Giuseppe Farina - que mais tarde se consagrou como primeiro vencedor da história da categoria - pela equipe italiana.
Na década de 60, o Grande Prêmio da Inglaterra passou a ser revezado entre Silverstone e Brands Hatch —e antes disso realizou provas também em Aintree, um traçado próximo da cidade de Liverpool —. O revezamento acabou apenas em 1987, quando Silverstone se tornou prova fixa no calendário da Fórmula 1.
Com um traçado calejado de reformas - que visaram desde maior segurança para os pilotos, até maior possibilidades de ultrapassagens para entreter o público - o circuito tradicional de Silverstone conta hoje com 5.891 quilômetros de extensão, 18 curvas e duas zonas de DRS. E, diferente das primeiras corridas de F1 que ele recebeu, agora desafia os pilotos com apenas 52 voltas e não mais 70.
E além do que nós vemos em dias de Fórmula 1, Silverstone também possui outras possibilidades de traçado — os chamados National, Southern e Stowe Circuit — de características diferentes, e que recebem outras categorias, de nível nacional e regional.

Mais um marco para o herói nacional
Apesar de Silverstone marcar a home race de pelo menos um quarto do grid -— contando com Lando, George, Oliver e Albon, que também tem nacionalidade britânica — os olhos dos ingleses sempre prestam mais atenção em Lewis Hamilton.
Na sua segunda temporada, em 2008, venceu pela primeira vez em casa, pilotando pela McLaren. Saindo de quarto no grid, tomou a liderança ainda na quarta volta, sob condições climáticas terríveis. Depois da corrida, ele disse que tinha sido a melhor vitória dele até ali: “As condições eram ruins, e eu pensei ‘Se eu vencer isso daqui, vai ser a melhor corrida que eu já fiz’”.
No seu primeiro ano com a Mercedes, em 2013, Hamilton garantiu a pole, mas não conseguiu converter a vitória, terminando apenas em quarto. No ano seguinte, começaria o que ficou conhecido como o recorde de mais vitórias no mesmo circuito na história da Fórmula 1.
Em 2014, Lewis largou de sexto, viu seu companheiro de equipe, Nico Rosberg, ter um problema com o carro e não finalizar a corrida, e terminou no lugar mais alto do pódio, na frente de Valtteri Bottas e Daniel Ricciardo. Entre 2015 e 2017, dominou completamente o circuito, largando da pole e conquistando a vitória por quatro vezes consecutivas.
Em 2017, inclusive, conquistou o único Grand Slam - Pole, volta mais rápida e liderança do começo ao fim - da história do circuito, além de terminar a corrida quase quinze segundos à frente do segundo colocado, Valtteri Bottas.
Enquanto em 2018 a sequência de vitórias foi interrompida, as de pódios não. Hamilton conquistou a pole, mas teve uma largada ruim e não conseguiu converter a vitória, terminando em segundo lugar. Naquela ocasião, Sebastian Vettel se tornou o primeiro piloto “não Mercedes” a vencer na Inglaterra em cinco anos.

Nos anos seguintes, tudo “voltava ao normal”. Em 2019, Lewis venceu com uma vantagem de mais de 24 segundos, marcando a volta mais rápida da pista até aquele momento: 1:27.269. Em 2020, sofreu com o dramático furo no seu pneu dianteiro na volta final, mas mesmo assim assegurou a vitória, terminando na frente de Max Verstappen. E, em 2021, se recuperou de uma penalização de 10 segundos, e venceu, conquistando assim, sua oitava vitória em Silverstone — e igualando o recorde de Michael Schumacher de maior número de vitórias no mesmo circuito, conquistado no Magny Cours.
Em 2022 e 2023, Hamilton subiu ao pódio em terceiro lugar, nas vitórias de Carlos Sainz e Max Verstappen, respectivamente. Foi apenas em 2024 que ele voltou a triunfar em casa, quebrando um jejum de 945 dias sem vencer - desde o Grande Prêmio de Jeddah, em 2021 — em casa, na frente da sua torcida. Depois da vitória, ele declarou:
“Meu coração está acelerado, eu já vivi tantos bons momentos aqui no passado, mas quando eu cruzei aquela linha de chegada, alguma coisa que eu acho que eu estava guardando a muito tempo foi liberado. Foi o final mais emocionante de uma vitória que eu já experienciei. Mas também, nós como um time, tivemos dificuldades para nos levantarmos, muitos pensamentos e dúvidas na minha mente durante o caminho, que chegavam a me fazer questionar se eu queria continuar. Eu nunca choro, mas essa me pegou, depois de um 2021 tão difícil, eu só tentava continuar a me reerguer”.

Entre os três melhores em casa desde 2014, Lewis chega em Silverstone nesta temporada com a missão de manter o recorde, mas vestindo novas cores e depois de um começo de temporada difícil. Além da vitória na Sprint do Grande Prêmio da China, Lewis ainda não conquistou um pódio com a Ferrari — que, apesar de ter tido um bom ritmo de corrida na Áustria, vem sofrendo com o carro desde o início do ano —.
Com a performance excelente da McLaren, é um pouco difícil sonhar com a vitória de Lewis Hamilton em casa, mas será que Silverstone não pode marcar um ponto de virada para o heptacampeão — que vem enfrentando o pior começo de temporada da sua história —?
E por falar em campeões vestindo novas cores
Ganharam força, nesta semana após o Grande Prêmio da Áustria - que marcou o DNF de Max Verstappen na casa da Red Bull - os rumores sobre a negociação do tetracampeão com a Mercedes.
O contrato do piloto neerlandês com a Red Bull vai até 2028, mas, aparentemente, existem cláusulas de desempenho que poderiam deixar seu caminho livre antes do prazo. Nada é confirmado, mas a imprensa próxima diz que Max estaria “livre” das responsabilidades com a Red Bull caso não estivesse entre os três primeiros no campeonato de pilotos até o Grande Prêmio da Hungria, que marca a última corrida antes do Summer Break.
A Sky Sports Italia cravou: a equipe está avançando nas conversas com Verstappen, e, caso a contratação tome rumos mais sérios, é o assento de George Russell — que tem contrato até 2026 e ainda não renovou com a equipe — que corre risco. Ao ser perguntado sobre a situação, o piloto britânico foi diplomático: “A Mercedes quer voltar ao topo, e para isso é preciso garantir que se tenha os melhores pilotos, os melhores engenheiros, a melhor equipe de boxes, e é isso que a Mercedes busca. Então, é normal que as conversas com gente como o Verstappen estejam em andamento. Há duas vagas em cada equipe e acho que ele [Toto Wolff] precisa pensar em quais serão os dois pilotos para essa vagas, acho que é por isso que [as negociações] estão atrasadas”.
Por outro lado, Max Verstappen foi sucinto e evitou alimentar rumores sobre qualquer negociação: “Quanto mais falo, mais isso repercute na imprensa. E certamente não quero isso. Eu determino meu próprio futuro”.
Parece um movimento de mercado meio surreal, mas aí a gente para e lembra que a ida do Hamilton para a Ferrari também parecia — e depois daquilo, eu sinceramente não duvido de mais nada —. Além disso, com o novo regulamento e a adição da Cadillac como 11ª equipe no grid para 2026, uma transferência desse tamanho ia ser só mais uma das mudanças com as quais a gente vai ter que se acostumar.
Legado britânico sob fibra de carbono
Silverstone recebe duas equipes com novas identidades para o fim de semana: a McLaren e a Racing Bulls. Enquanto os papayas comemoram sua corrida em casa, eles abrem um pouco de mão do laranja e apostam, mais uma vez, no estilo cromado, em parceria com o Google Chrome, um dos seus patrocinadores mais antigos.
A pintura faz referência aos carros cromados com detalhes vermelhos, usados pela equipe entre 2007 e 2013, com os quais o último título de pilotos foi conquistado por um piloto McLaren — Lewis Hamilton, em 2008 —. A equipe fez, inclusive, um evento em Londres para divulgar a livery especial. E a diretora de marketing da escuderia, Louise McEwen, disse que a diferença entres os fãs antigos e novos dentro do esporte motivou eles a levarem essa pintura até a Inglaterra.

Do outro lado do paddock, a Racing Bulls também trouxe um tributo aos londrinos, mas em forma de arte. O branco permanece como base do carro, mas o que chama atenção são os desenhos grafite em preto, que estampam todo o carro e os macacões dos pilotos para o fim de semana. A estampa é, também, uma parceria com um patrocinador master — no caso da RB, a Hugo Boss — em colaboração com o artista nigeriano Slawn, conhecido por inspirar seus grafites na cultura africana ocidental, com elementos que remetem à arte urbana londrina.

Peter Bayer, CEO da VCARB, disse que Silverstone é um momento “massive” na temporada. E que a equipe está orgulhosa de poder levar algo completamente original e ousado para os fãs. É a tentativa perfeita de unir esporte, moda e arte mais uma vez.
Os maiores em Silverstone
Lewis Hamilton é, disparado, o piloto com mais vitórias no circuito, somando nove, Jim Clark e Alain Prost vem em seguida, com cinco cada. A Ferrari é a equipe que mais triunfou, colocando seus pilotos no topo do pódio dezoito vezes. O recorde de volta do circuito pertence a Max Verstappen, que marcou 1:27.097 em 2020.
Relembrando a última etapa
A corrida de 2024 em Silverstone foi marcada pela grande vitória de Lewis Hamilton em casa, após um jejum de quase três anos sem vencer. Max Verstappen e Lando Norris completaram o pódio. George Russell largou na pole position, mas foi obrigado a terminar sua corrida mais cedo por problemas na pressão d’água do seu carro. Carlos Sainz garantiu o ponto - ainda em vigor na época - da volta mais rápida, marcando 1:28.293 na volta final da corrida, ainda pilotando pela Ferrari.
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