Em Spielberg, no GP da Áustria, a Red Bull é favorita, mas não chega em casa na liderança
- Giovanna Carvalho

- 23 de jun.
- 7 min de leitura
Atualizado: 24 de jun.
Uma quinzena longe das pistas é tempo suficiente para sentir saudades? A pausa pós etapa canadense foi boa para colocar os ânimos no lugar: os holofotes da Mercedes - que dominava a corrida de forma até que tranquila e garantiu o primeiro pódio do seu jovem prodígio - foram voltados aos papayas quando Lando Norris e Oscar Piastri se envolveram em um incidente nas voltas finais, fazendo com que o britânico abandonasse depois de um bom final de semana. Com o clima esquentando - e o campeonato longe de ser resolvido - a categoria chega até o Red Bull Ring, na Áustria, neste fim de semana (27-29).
A pista é curta. A volta, rápida. Mas ninguém sai ileso de Spielberg. O GP da Áustria é daqueles que enganam os distraídos.

ZOOM IN no circuito (e na história)
Localizado no coração da Estíria, o Red Bull Ring é uma pista incrustada entre as montanhas — uma espécie de anfiteatro natural que transforma o som dos motores em trilha sonora para quem assiste. Mas por trás do visual campestre, há uma história que poucos conhecem: onde hoje os carros param nos boxes, antes havia um aeródromo militar. Durante a Segunda Guerra Mundial, o local abrigava o aeródromo de Zeltweg e serviu como base para treinamento e operações.
Em 1957, inspirados no modelo de Silverstone, construíram um circuito provisório usando as pistas de pouso. Houve um tempo que chegaram a sediar corridas esportivas, incluindo um uma corrida único na Fórmula 1 em 1964. Porém, as condições da pista — rugosa e com concreto de aeroporto — levaram a uma única temporada de F1 ali
O traçado foi abandonado em 1969, sendo substituído pela construção do Österreichring, a pista moderna que evoluiu para o atual Red Bull Ring. Sua primeira versão tinha 5.911 metros, com longas retas que exigiam altas velocidades dos carros e garantiam ultrapassagens intensas. Mas, por questões de segurança, nos anos seguintes, foram feitas modificações para melhorar a experiência dos pilotos e dos milhares de fãs que estavam presentes nos fins de semana de corrida.
Em 1995, a pista foi redesenhada por Hermann Tilke , agora com 4.326 metros e com um novo nome: A1-Ring. Alguns anos depois, em 2004, a etapa foi retirada temporariamente do calendário da Fórmula 1 por problemas financeiros da organização do evento. Foi justamente nessa época que a Red Bull comprou o circuito e o reformou.

Em 2011, o circuito foi reinaugurado como Red Bull Ring, na intenção de conseguir se “re-consagrar” como uma das casas do automobilismo. Hoje, a pista conta com 4.318 km de extensão de pura intensidade em apenas 10 curvas divididos em dois atos e 3 zonas de DRS. No primeiro trecho, a potência é rainha: três retas intercaladas por subidas que exigem motores famintos e aerodinâmica eficiente. Já na segunda metade, o circuito se abre num verdadeiro tobogã alpino, embalado por curvas rápidas — destaque para a icônica Curva Rindt, nomeada em homenagem ao único campeão austríaco de F1. No domingo os pilotos enfrentam 71 voltas. O Red Bull Ring, ao contrário do que parece no mapa, não é “fácil”. A sequência de curvas é simples, mas cada uma delas esconde uma armadilha. A Curva 1 exige precisão milimétrica na saída, porque define a velocidade na longa subida até a Curva 3 — uma das zonas de freada mais críticas da temporada. A inclinação da pista, o vento lateral, a mudança súbita de temperatura e a oscilação na aderência fazem com que muitos pilotos errem ali. Às vezes passam reto, às vezes travam roda. E, em corrida, qualquer um desses erros significa perder posição.
Guerra civil na McLaren
A batida entre os companheiros de equipe nas últimas voltas foi a pauta principal após a etapa canadense. Ainda antes de deixar seu carro, Lando Norris assumiu total culpa pelo incidente e, mais tarde, nas entrevistas, disse estar aliviado de não ter acabado com a corrida de Oscar Piastri, mas que teve que pagar o preço pelo seu erro.
Sem ressentimentos, a equipe demonstrou apoio ao piloto inglês, mas reconheceu que o episódio poderia pesar para o lado dele, que tem um histórico de autocobrança, fora das pistas. Andrea Stella, chefe de equipe da McLaren, comentou sobre o ocorrido:
“Ele nunca chegou a dizer ‘Vamos conversar sobre isso”. Isso pode ter um impacto na sua confiança, mas cabe a nós, como equipe, mostrar nosso total apoio a ele. E quero deixar bem claro que o apoio a Lando é total. Teremos conversas, que podem ser até difíceis. Mas não há dúvida sobre o apoio que damos a ele, e sobre o fato que preservamos nossa equidade e paridade em relação à forma de competir na McLaren”.
Do lado de fora, Toto Wolff brincou, dizendo que já viu esse filme antes - se referindo a temporada “sombria” que a Mercedes teve em 2016, com a disputa entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg -: “Eu estava lá no meio, como um ator. E é difícil, porque é isso que os pilotos são calibrados e condicionados a fazer: vencer campeonatos, principalmente na Fórmula 1”.
O chefe de equipe da Mercedes ainda acrescentou que aconselha a McLaren a estabelecer regras o mais cedo possível, para conseguir manter os seus pilotos na linha: “Isso obviamente aumenta de complexidade se o campeonato de construtores também estiver em jogo , porque a equipe pode sempre acabar discutindo [para priorizar o campeonato]... Nesse caso, eles já estão tão à frente que não é mais uma questão de se eles vão ganhar ou não. Mas é, certamente, uma situação complicada”.
Mesmo depois de abandonar na última etapa, Lando Norris mantém seu segundo lugar no campeonato de pilotos, porém agora Oscar Piastri aumenta sua vantagem na liderança, o que antes eram 10 pontos separando os dois, agora são 22 e o australiano vai se consolidando, cada vez mais, como favorito ao título.
Pisando - ou pilotando - em ovos
Depois de uma largada e uma corrida um tanto quanto tranquila - principalmente considerando do lado de quem ele largou - Verstappen escapou de levar mais pontos de penalidade na etapa canadense. Mesmo assim, o tetracampeão continua sem poder respirar tranquilo em relação a sua superlicença e ainda corre na Áustria sob a possibilidade de ser suspenso por uma corrida caso seja punido de alguma maneira.

Isso porque os primeiros dois pontos de penalidade só expiram no dia 30 de junho, depois da corrida austríaca. O que significa que Max vai precisar passar pelas cinco sessões do fim de semana - contando os três treinos livres, a classificação e a corrida - sem manobras que possam dar margem de interpretação para os comissários distribuírem pontos. Um incentivo a mais para não falhar na casa da equipe, hein…
Verstappen é o que possui mais pontos na licença no momento, com 11, mas outros pilotos no grid também colecionam alguns: Lance Stroll e Liam Lawson estão com 6, Hulkenberg e Piastri têm 4, Lando Norris está com 3. Quase um “trenzinho” daqueles de DRS, Bearman e Ocon, Albon e Sainz, Alonso, Colapinto e Tsunoda têm 2 cada e George Russell é o único com apenas 1 ponto. Quem foi que disse que só a gente que tem que se preocupar com ponto na carteira?
Os maiores na Áustria
Dando orgulho para sua equipe, foi Max Verstappen que subiu mais vezes ao degrau mais alto do pódio no Red Bull Ring, somando quatro vitórias (2018, 2019, 2021 e 2023). Alain Prost o segue de perto, com três vitórias e alguns pilotos somam duas: Valtteri Bottas, Nico Rosberg, Michael Schumacher, Mika Hakkinen, Alan Jones e Ronnie Peterson. Mesmo sendo a anfitriã, a Red Bull não é a equipe mais vitoriosa no circuito. Esse posto é tomado pela McLaren, que conta com 6 triunfos em Spielberg. A Ferrari é a que tem mais poles, pontos e pódios - 8, 26 e 290.5, respectivamente -.
Relembrando a última etapa
A etapa de 2024 na Áustria foi uma das seis daquela temporada que recebeu o formato Sprint. No sábado, a corrida seguiu apenas com uma disputa entre as McLarens e Max Verstappen, que resultou numa ultrapassagem dupla do holandês e de Oscar Piastri sob Lando Norris, que mais tarde admitiu ter “deixado a porta aberta como um amador”. Mesmo assim, os papayas saíram em vantagem, pois levaram seus dois carros ao pódio, logo atrás de Max, que conquistou a vitória.
No domingo, o clima esquentou. Max e Lando disputaram por boa parte da corrida, mas a confusão começou mesmo perto da volta 24, quando ambos entraram para os boxes ao mesmo tempo. A Red Bull liberou Max depois do pit stop, e Lando, que vinha logo atrás, teve que tomar cuidado para não causar um acidente pela proximidade. Norris reclamou, a FIA anotou e no final não deu em nada.
Mas a partir dali o circo já estava montado, e o público só esperava a atração principal. Mesmo depois de abrir mais de oito segundos de vantagem para Norris, Max teve um problema com o pneu traseiro no seu segundo pit stop e, com o tempo ruim nos boxes, voltou grudado com Norris, que aproveitou a oportunidade para tentar agarrar a vitória.
A batalha entre os dois foi intensa e, no meio de ultrapassagens, acabou em uma batida na volta 64. Lando teve que abandonar a corrida apenas duas voltas depois do incidente e Verstappen perdeu a vitória e a oportunidade de um pódio ao ter que pagar 10 segundos de punição, terminando em quinto lugar.
Sempre na cena do crime, quem herdou a primeira posição - e garantiu a primeira vitória desde Interlagos 2022 - foi George Russell, que vinha numa corrida tranquila, constante nas primeiras posições. Oscar Piastri e Carlos Sainz completaram o pódio.



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