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O fim do relacionamento entre Christian Horner e a Oracle Red Bull Racing após 20 anos na Fórmula 1

  • Foto do escritor: Monique Mavillyn
    Monique Mavillyn
  • 9 de jul.
  • 7 min de leitura

A mensagem chegou numa quarta-feira. Após 20 anos gerenciando a Red Bull Racing desde suas origens modestas até se tornar a força dominante na Fórmula 1, Christian Horner foi demitido. Sem cerimônias e muitos detalhes sobre o que levou à essa decisão. Apenas um comunicado anunciando que Laurent Mekies assumiria "com efeito imediato" como CEO da equipe de Milton Keynes.


Christian Horner deixa o cargo de diretor na RBR em 2025. Foto: RBR via X
Christian Horner deixa o cargo de diretor na RBR em 2025. Foto: RBR via X

Para aqueles que seguem a Fórmula 1, a notícia veio de uma forma confusa, ao mesmo tempo que parecia chocante, também era inevitável. Horner, o homem que tornou uma equipe de bebida energética em uma máquina de vitórias, havia se tornado uma figura envolta em conflitos. 


Se quisermos entender as razões dessa queda, é preciso voltar ao começo.


Em 2005, quando a Red Bull comprou a equipe Jaguar Racing, Christian Horner era pouco mais que um ex-piloto de 31 anos com uma pequena equipe chamada Arden International. Helmut Marko e Dietrich Mateschitz viram nele algo que poucos conseguiram enxergar: um líder nato com a capacidade de transformar investimento em vitórias.


E como transformou. Sob a liderança de Horner, a RBR conquistou quatro campeonatos mundiais consecutivos de pilotos com Sebastian Vettel (2010-2013), estabelecendo-se como a força dominante de uma geração. Mais tarde, com Max Verstappen, a equipe conquistou três títulos consecutivos (2021-2023), mantendo um legado que parecia inabalável.


Enquanto diretor de equipe, ele ajudou a formar uma cultura vencedora em Milton Keynes, fortaleceu uma mentalidade que combinava inovação técnica com uma agressividade estratégica que seus rivais invejavam e temiam em igual medida. Seu relacionamento com Adrian Newey, o genial projetista, resultou em alguns dos carros mais dominantes da história da Fórmula 1.

Sebastian Vettel comemora pódio em Abu Dhabi, 2010. Foto: RBR via X
Sebastian Vettel comemora pódio em Abu Dhabi, 2010. Foto: RBR via X

O início da separação

Só que você sabe… Impérios, por mais sólidos que pareçam, podem desmoronar num piscar de olhos. E o de Horner começou a rachar por volta de 2022 — ao menos com as informações públicas que temos —, ano em que uma guerra interna entre proprietários havia se tornado instaurado. Por trás da fachada de unidade corporativa, a briga pelo controle da equipe vinha se desenrolando há meses.


A Red Bull Racing é uma empresa dividida. Cinquenta e um por cento pertencem a Chalerm Yoovidhya, herdeiro do fundador tailandês da marca de bebidas energéticas, enquanto os 49% restantes ficaram nas mãos da família Mateschitz após a morte de Dietrich.


Esta divisão de propriedade, que durante anos funcionou harmoniosamente sob a liderança carismática de Mateschitz, começou a apresentar um desequilíbrio quando Horner se viu no centro de controvérsias. Várias reuniões foram realizadas entre os proprietários tailandeses e austríacos, explorando cenários que incluíam reduzir significativamente o poder de Horner dentro da equipe.


O plano se desenhava para retirar das mãos de Christian sua autoridade operacional. Para um homem que havia construído sua carreira controlando cada aspecto da operação da Red Bull, a proposta era inaceitável. Tempos depois, as coisas foram se intensificando e do lado de fora as pessoas viam que a relação de Horner com Helmut Marko parecia incômoda, a ponto de sugerirem que Horner estaria tentando manobrar a saída do consultor.


A imprensa chegou à questionar Max Verstappen sobre essa possível situação, o qual tentou abaixar os burburinhos do paddock:


Apesar disso, algumas dúvidas foram plantadas quando Marko disse ao  Motorsport-Total.com, site irmão do Motorsport.com na Alemanha, que: 

"Tenho um contrato até o fim de 2024 e, afinal, é decisão dos acionistas, não de Christian Horner, e, no fim, sou eu quem decide.”


A tensão já estava instalada na escuderia, só que atearam mais fogo quando a Red Bull confirmou estar investigando alegações de "comportamento inadequado" contra seu chefe de equipe.


A denúncia, feita por uma funcionária da equipe, foi conduzida por um advogado externo. Embora os detalhes específicos nunca tenham sido tornados públicos, as implicações mexeram com a organização, ainda mais quando a funcionária foi posteriormente suspensa, uma decisão que levantou questões sobre a postura corporativa da Red Bull. Mais perturbador ainda foram os rumores de que evidências relacionadas ao caso vazaram para a imprensa, criando um ambiente desconfortável que nunca foi totalmente resolvido.


Naquele ano, Horner negou veementemente as alegações, mantendo uma postura de "negócios como sempre" enquanto a investigação prosseguia. Em 2024, foi formalmente absolvido de todas as acusações de assédio sexual.


O efeito dominó foi iniciado


Max Verstappen começou a receber uma enxurrada de perguntas publicamente sobre seu futuro na Red Bull. Seu empresário, Raymond Vermeulen, emitiu avisos claros de que "nada mudaria" em relação às considerações de Verstappen sobre deixar a equipe. A possibilidade de perder o tricampeão mundial criou uma crise existencial para a Red Bull. E isso era só o começo.


A fragilidade da RBR foi escancarada com a partida devastadora de Adrian Newey. O anúncio em maio de 2024 de que o icônico projetista sairia a Red Bull no primeiro trimestre de 2025 deixou todos da Fórmula 1 sem reação. 


Newey admitiu que começou a contemplar sua saída após a intensa batalha pelo campeonato de 2021, revelando que “a F1 consome muito do seu tempo e precisava descansar”, também comentou posteriormente que “buscava por novos desafios” depois de anos de sucesso na escuderia. E no meio disso, não se pode negar a influência da crescente instabilidade interna da Red Bull. Afinal, quem imagina terminar a carreira ou continuar ela em um lugar onde já não o serve mais?


A partir de maio de 2024, Newey parou imediatamente de trabalhar nos carros da F1, embora tenha permanecido tecnicamente na folha de pagamento durante seu período de licença obrigatória. Sua ausência, obviamente, foi imediatamente sentida. Meses depois, o mestre que havia projetado carros dominantes por quase duas décadas – responsável por 13 títulos desde que se juntou a Red Bull em 2006 – agora estava trabalhando para a concorrência.


Enquanto Horner lutava para manter sua posição, ele estava perdendo uma das personalidades mais valiosas da equipe. Newey, que havia sido cortejado pela Ferrari e outras equipes, escolheu seguir com a Aston Martin, onde começaria a trabalhar em 2025 após completar seu período de licença.

Fernando Alonso no Grande Prêmio em Silverstone, 2025. Foto: Aston Martin via X
Fernando Alonso no Grande Prêmio em Silverstone, 2025. Foto: Aston Martin via X

E foi um sair, que os outros foram tomando partido também.


Rob Marshall, diretor técnico, partiu para a McLaren. Jonathan Wheatley, diretor esportivo há muito tempo, foi para a Audi. Will Courtenay, chefe de estratégia, seguiu para a Ferrari. O padrão que havia se formando era inquietante: as mentes importantes da Red Bull estavam abandonando o barco, e não estavam sendo substituídas por nomes de igual calibre.


Onde antes a Red Bull atraía os melhores talentos da Fórmula 1, agora lutava para reter até mesmo seus funcionários mais leais. E então o ciclo vicioso se infiltra na equipe, derrubando uma peça seguida da outra. 


Mais força para os rumores


A ideia de que Max Verstappen poderia se unir à Mercedes foi ganhando força nas últimas semanas. Toto Wolff, chefe da Mercedes, confirmou publicamente que estava em "conversas contínuas" sobre tentar contratar o tricampeão mundial. George Russell também confirmou à imprensa que esse interesse no holêndes estava circulando dentro da escuderia, mas que estaria seguro de seu lugar na Mercedes. 

Max Verstappen tem conversas com outras scuderias para sua possível saída da RBR. Foto: RBR via X
Max Verstappen tem conversas com outras scuderias para sua possível saída da RBR. Foto: RBR via X

Veja só que o timing não podia ser mais significativo: com Lewis Hamilton na Ferrari e a Red Bull em turbulência, a Mercedes, por mais que tenha uma das melhores duplas do grid atual, se viu diante da oportunidade de ter ao seu lado o prodígio da RBR e um dos pilotos mais desejados da F1.


Tudo parece se encaixar tão perfeitamente, que chega ser estranho…


Os rumores também ganharam tração devido à existência de uma cláusula de saída relacionada ao desempenho no contrato de Verstappen, que vai até 2028. O próprio Christian Horner informou que, se Verstappen estivesse fora do top quatro do campeonato de pilotos, ele poderia acionar a cláusula. Estimativas sugerem que liberá-lo do contrato poderia custar mais de £100 milhões, mas para a Mercedes, o investimento seria justificado.


A confiança de Horner de que Verstappen "gostaria de terminar sua carreira em um carro da Red Bull" soou cada vez mais como esperança do que certeza. Com a partida de Newey, a instabilidade de gestão e o declínio competitivo da equipe, a permanência de Verstappen está sendo testada como nunca antes.


O inegável 


Avaliar o legado de Horner é complicado. Numericamente, seus feitos são incontestáveis: sete campeonatos de pilotos e seis de construtores, além de 136 vitórias em corridas. Ele estava no comando de uma equipe de energéticos e a fez ser uma das mais bem-sucedidas da história da Fórmula 1.


E como tudo naquilo que reina…


Christian com sua abordagem agressiva, tanto na pista quanto fora dela, criou inimigos e aliados na mesma proporção — ou quase —. Sua tendência a confrontos públicos, especialmente com rivais como Mercedes e Ferrari, trouxe uma dramaticidade que alguns amavam e outros desprezavam. A Netflix teria adorado estar nessa época.

Foto: RBR via X
Foto: RBR via X

A decisão de retirá-lo do cargo após 20 anos, com todos os fatores que aconteceram — uns que sabemos e outros que não —, é uma consequência lógica de um conflito irreconciliável entre visões diferentes do futuro da equipe.


Laurent Mekies, seu sucessor, chega com uma imagem mais discreta, desenvolvida em sua experiência na Ferrari e na Racing Bulls. Ainda é cedo para se falar… mas conseguirá ele manter a fome competitiva que tornou a Red Bull tão formidável?


A trajetória de Horner nos dá lições sobre as complexidades da liderança no esporte. Construir um império não é suficiente se você não conseguir mantê-lo em harmonia. Sucesso não é uma armadura contra erros pessoais. E em uma era de maior responsabilidade e transparência, mesmo os mais poderosos devem responder por suas ações.


Essa queda também escancara como escândalos podem ter consequências duradouras, mesmo após absolvições formais, uma vez que a confiança dentro e fora da equipe já não é mais a mesma. A nuvem de desavenças que pairou sobre Horner durante esses meses nunca se dissipou completamente, criando um ambiente insustentável que só podia terminar de uma forma.


A saga de Christian com a RBR mostra como a Fórmula 1 é tanto sobre gestão corporativa quanto sobre velocidade. Aquela divisão entre proprietários tailandeses e austríacos, a pressão dos patrocinadores, a gestão de talentos como Newey e Verstappen, a falha na comunicação – todos esses elementos são tão cruciais quanto a aerodinâmica para manter-se vivo e com boa reputação na categoria.


Para a Red Bull, tal saída representa o fim e o começo. A equipe deverá se esforçar mais e comprovar que sua identidade pode sobreviver sem essas pessoas, afinal, a dominância não reside apenas em vitórias e títulos, mas na capacidade de manter a integridade e a unidade quando tudo está em jogo.. Enquanto Horner, no auge dos 51 anos, terá que encontrar uma nova forma de viver a vida um pouco longe do protagonismo.

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