O mistério Tifosi… O que torna a Ferrari tão exaltada?
- Giovanna Carvalho
- 7 de jan.
- 6 min de leitura
Atualizado: 28 de mar.
Fã ou não, é impossível pensar na Fórmula 1 e não lembrar da equipe mais tradicional da sua história. Ainda hoje, 75 anos depois do seu início, apenas uma das dez equipes do grid marcou presença em todas as temporadas e soma o maior número de títulos: a Scuderia Ferrari. Mais do que uma equipe ou uma marca, a Ferrari é uma instituição que soma milhares de entusiastas e admiradores ao redor do mundo. Mas de onde vem toda essa adoração, e ainda, o que a torna tão especial?

Máquina do tempo: a criação da Ferrari
Voltando um pouco na história, relembramos Enzo Anselmo Giuseppe Maria Ferrari, ou simplesmente Enzo Ferrari, o fundador de tudo isso. Enzo nasceu em Modena, na região central da Itália. Seu primeiro contato com o automobilismo aconteceu na época dos Grandes Prêmios europeu, quando assistiu o italiano Felice Nazzaro vencer em Bologna. Mais tarde, em uma das poucas entrevistas que deu, disse que aquela foi a primeira vez que ele teve vontade de ser piloto e de trabalhar em corridas.
Enzo serviu na primeira guerra e quase morreu em uma pandemia de gripe que levou seu pai e seu irmão em 1918. Procurando emprego para se manter, Enzo chegou a procurar vaga na FIAT, que o rejeitou na época - já pensou o que aconteceria se ele fosse aceito? -. Depois dali, acabou conseguindo emprego como motorista e piloto de testes de uma fabricante de carros em Milão, que tinha como principal função transformar chassis de caminhões velhos em veículos menores, com o tempo, foi promovido a piloto de competições.
O italiano terminou a prova de subida de montanha de Parma-Poggio de 1919 em 4° e em novembro do mesmo ano, participou das Mille Miglia, que abandonou por problemas de vazamento no quarto. Ainda em 1919, Enzo virou piloto Alfa-Romeo e em 1920 ganhou o seu primeiro Grande Prêmio na cidade de Ravena. Dez anos depois, Enzo se afastou das pistas após o nascimento do seu filho e a partir dali passou a administrar o braço de competições da Alfa Romeo, que ele nomeou de “Scuderia Ferrari”, familiar, não?
Em 1937, a fabricante retomou o controle e a equipe abriu mão do sobrenome Ferrari, passando a ser chamada “Alfa Corse”, Enzo se tornou apenas o diretor esportivo, cargo no qual permaneceu por pouco tempo antes de se desligar completamente da montadora - com a promessa de passar um tempo sem usar o seu nome na fabricação de carros -. Foi assim que nasceu o Auto Avio Costruzioni, que, em um primeiro momento, era uma oficina que fornecia peças para corridas e carros de competição, mas que acabou se voltando em esforços de guerra com o contexto da Segunda Guerra Mundial se espalhando pela Itália.
Ainda assim, em 1940, Enzo construiu um carro para competir a Mille Miglia e esse modelo quebrou seu contrato de “naming rights” com a Alfa Romeo e foi batizado Ferrari 815 Sport. No contexto pós-guerra, em 1947, uma nova fábrica foi construída depois da última ser bombardeada pelos aliados. Surgia ali a Ferrari S.P.A. (Società Per Azioni) e seu objetivo era claro: enfrentar e vencer a poderosa Alfa Romeo, que ascendia na época.
O primeiro título a ser lembrado dentro dessa nova fase veio dois anos depois, em 1949, quando conquistaram as lendárias 24h de Le Mans com a Ferrari 166MM. No ano seguinte, nasceu a Fórmula 1 e a Ferrari não participou da corrida inaugural em Silverstone. Sua estreia na categoria aconteceu apenas na etapa seguinte, no Grande Prêmio de Mônaco. E ali nascia um mito, 75 anos depois, a Scuderia Ferrari segue sendo a única que marcou presença em todas as temporadas da maior competição de automobilismo do mundo, além disso seus números também elevam a equipe a um outro patamar: são 16 títulos de construtores e 15 de pilotos, além de 248 vitórias e 840 pódios, somando incríveis 10.615,5 pontos na sua trajetória até aqui.
Muitos podem não considerar a Ferrari como a melhor escuderia, mas que ela é a mais vitoriosa não dá para negar.
Os tradicionais símbolos
Além disso, é impossível ver o carro vermelho nas pistas e não reconhecer a Ferrari quase imediatamente, ou até esbarrar no famoso “cavalinho rampante” por aí e não associar imediatamente à marca… Mas de onde surgiram essas simbologias que praticamente gritam Ferrari?
Começando com a característica cor vermelha dos carros, ela veio também dos Grandes Prêmios europeus, antes mesmo da criação da Fórmula 1. Naquela época, era obrigatório que cada país ou federação que inscrevesse seus carros nessas competições tivesse uma determinada cor para correr. Dessa maneira, todos os italianos - desde a Alfa Romeo até a FIAT e a Maserati, por exemplo - corriam de vermelho, e a Ferrari não era exceção.
Como dentre todas essas a Ferrari acabou sendo a mais bem-sucedida e algumas outras marcas acabaram saindo da categoria depois de algum tempo, Enzo Ferrari aproveitou que a associação já estava feita e numa gigantesca jogada de marketing manteve o vermelho Ferrari mesmo depois que a obrigatoriedade das cores por nação foi cancelada. O amarelo do fundo do escudo remonta apenas à cor da região italiana de Modena, onde Enzo nasceu.

Já o cavalinho rampante tem uma história mais pessoal - e veio de um avião! -. Uma família de amigos do Enzo tinha um filho aviador, piloto da Força Aérea Italiana - Francesco Baracca - que voava com um cavalo rampante estampado na sua fuselagem. Em 1918, Francesco foi morto em combate e os seus pais deram o símbolo de presente para que Enzo pudesse estampar seus carros e trazer boa sorte nas suas corridas. Anos mais tarde, “il cavallino rampante” se tornou um dos símbolos mais famosos do mundo todo.
A legião tifosi e as expectativas com a equipe
Mesmo com toda sua trajetória, tradição e mística, a Ferrari não tem passado por temporadas fáceis nos últimos anos: o último título veio em 2007 - quando Kimi Raikkonen conquistou o único título da sua carreira - e desde então, já são 17 anos em jejum. Ainda assim, os fãs parecem mais fervorosos do que nunca. Nas arquibancadas existem sempre milhares de entusiastas em vermelho, apoiando a equipe mesmo com todas as corridas ruins e “trapalhadas”.

A grande pergunta é “por quê?”. E no final das contas, não existe uma resposta certa pra isso, a mistura de tradição, números e história cria para a equipe uma “aura” que pode ser considerada até mística. A Ferrari, dentro do automobilismo e fora dele, conseguiu criar uma imagem que nenhuma outra marca conseguiu.
Obviamente, não é à toa que o próprio fundador, Enzo Ferrari, disse que se você pedir para uma criança desenhar um carro, ela “com certeza vai pintá-lo de vermelho”. Ou que o tetracampeão Sebastian Vettel afirmou, na sua passagem pela equipe, que “todo mundo é fã da Ferrari, mesmo que não sejam”.
Na última temporada (2024), a Scuderia brigou pelo campeonato de construtores pela primeira vez desde 2009, e isso, com certeza, colaborou para aumentar as expectativas dos tifosi para esse ano. Além disso, a vinda de Lewis Hamilton para a equipe também traz um peso maior - o piloto mais vitorioso da categoria vai finalmente correr pela equipe mais vitoriosa -. É a história sendo escrita bem diante dos nossos olhos.
Por fim, a Ferrari vem de uma temporada que pode ser considerada positiva. Apesar disso, o chefe da equipe, Frederic Vasseur, afirmou que o carro de 2025 é 99% novo, o que é surpreendente, considerando a crescente que a equipe teve no final da temporada anterior. Vasseur disse que:
“Estamos no quarto ano de aplicação deste regulamento e conhecemos muito bem o nosso projeto anterior. É por isso que o carro de 2025 será completamente novo.”
Então no fim não dá para saber o que esperar desse novo carro, e talvez essa imprevisibilidade e todo o mistério da equipe também colabore para toda a exaltação dentro da Fórmula 1. Será que os tifosi não são nada mais do que fãs viciados na adrenalina do elemento surpresa..?
👀 Agora a gente quer saber, Driver: para você, o que torna a Ferrari tão especial? Conta lá na nossa DM do Instagram @faladrivers
Comentarios