A corrida pela influência: o soft power americano na era da Fórmula 1
- Maria Eduarda
- há 7 dias
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Você já reparou como algumas coisas fazem a gente se sentir mais próximo de um país, mesmo sem nunca ter pisado lá? Um filme, uma música, um estilo de vida, uma marca famosa… De repente, você está sonhando com uma road trip pela Califórnia, usando jeans Levi's e comendo hambúrguer enquanto ouve Beyoncé. Tudo isso tem um nome: soft power.
Parece complicado, mas é fácil de entender: soft power significa “poder suave” em inglês. Em vez de um país usar armas ou ameaças para influenciar os outros (o chamado hard power, ou poder duro), ele conquista as pessoas com cultura, valores, esportes e imagens positivas. Ou seja, ele atrai em vez de impor.
Quer um exemplo simples? Pense nos Estados Unidos. Muita gente no mundo admira esse país por causa dos filmes de Hollywood, das músicas pop, do estilo de vida americano. As pessoas sonham em estudar lá ou conhecer Nova York. Isso tudo é soft power funcionando: os EUA criam uma imagem tão forte que influenciam o mundo, sem precisar forçar nada.
Hoje, o país está aplicando esse conceito com um novo combustível: a Fórmula 1. Sim, a mesma F1 que por anos foi dominada pela Europa agora virou palco de uma narrativa estratégica, e altamente lucrativa, que coloca os Estados Unidos no centro do espetáculo global.
Um novo tipo de corrida
Quando penso no GP de Miami, a primeira imagem que me vem à cabeça não é nem a do Oscar Piastri vencendo, mas a do paddock lotado de celebridades. Rosé, Nina Dobrev, Timothée Chalamet, Dj Khaled, Terry Crews… Gente que, muitas vezes, nem entende de automobilismo, mas entende de impacto cultural. E é exatamente isso que está em jogo.

A presença dessas personalidades não é acaso. O GP de Miami é um evento planejado para extrapolar o universo dos apaixonados por corridas e alcançar o grande público, aquele que está nas redes sociais, que consome conteúdo, que molda tendências. É entretenimento, esporte e propaganda cultural em alta velocidade.

Embora os dados oficiais do GP de Miami 2025, que aconteceu entre os dias 2 e 4 de maio, ainda não tenham sido divulgados até o momento da publicação deste artigo, os números da edição anterior ajudam a entender a dimensão e o impacto desse evento nos Estados Unidos. Segundo informações divulgadas pela Formula 1 e pelo Escritório de Turismo de Miami, o GP de Miami de 2024 atraiu mais de 275 mil pessoas ao longo dos três dias de evento, no Miami International Autodrome. O peso econômico foi estimado em US$ 449 milhões, com US$ 150 milhões em salários pagos a trabalhadores locais.
Na TV, o espetáculo também rendeu. Segundo a Nielsen, o GP de 2024 teve uma média de 3,1 milhões de telespectadores nos EUA, com pico de 3,6 milhões durante a corrida. A sprint race de sábado, transmitida pela ESPN, alcançou 946 mil espectadores, o maior número desde a criação do formato, em 2021.
Ufa! Muitos números, né?
Mas tudo isso é pra mostrar como uma corrida de Fórmula 1 vai muito além da pista. O GP de Miami movimenta a cidade, sim, mas também mexe com a percepção global sobre o país.
Do paddock ao Instagram: tudo é conteúdo
A F1 nos Estados Unidos virou conteúdo. E conteúdo, hoje, é poder. Com a série Drive to Survive, da Netflix, o esporte ganhou um novo tipo de fã: mais jovem, mais digital, mais engajado. As corridas viraram narrativas. Os bastidores viraram drama. Os pilotos, personagens.
E quem ganha com tudo isso? A imagem dos EUA. Afinal, não é à toa que a Liberty Media, dona dos direitos da transmissão do esporte desde 2017, é uma empresa americana. Desde que assumiu o comando, ela trabalhou para tornar o esporte mais acessível, mais midiático, mais... hollywoodiano. Aumentou o número de corridas no país (hoje são três: Austin, Las Vegas e Miami), apostou em conteúdo multiplataforma, levou o esporte para o coração do entretenimento mundial.

Soft power na prática
Quando um país domina o imaginário coletivo global, ele ganha voz nas mesas de negociação, nos acordos comerciais, nas decisões multilaterais. Influenciar a percepção do mundo sobre quem você é pode ser tão ou mais eficaz do que ter o maior arsenal militar.
E os Estados Unidos não estão sozinhos nesse jogo. Países como Emirados Árabes Unidos, com Abu Dhabi, e Arábia Saudita, com Jeddah, também investem pesado em seus GPs para construir imagens modernas, influentes e abertas ao mundo.
E nesse sentido, usar o esporte, especialmente um com tamanha audiência global quanto a Fórmula 1, é uma jogada de mestre!
Excelente, amei!
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